quarta-feira, 1 de maio de 2013

Carro ou geladeira?

Amigos,

Tenho o privilégio de não precisar do carro para ir ao trabalho. Alguns não vão achar graça, dirão que para um entusiasta qualquer chance de dirigir é uma oportunidade. Eu discordo: encarar trânsito ruim diariamente é chato para qualquer um, entusiasta ou não.

Percorrendo a pé os cerca de 800 metros que separam casa do trabalho chego mais rápido do que de carro e, de quebra, posso ir observando uma das coisas que mais gosto: carros. Ao observá-los, vejo muito do comportamento de seus motoristas e percebo que, para muitos, dirigir é uma necessidade e uma obrigação, uma obrigação chata.

Passava em frente a saída do estacionamento de um shopping ontem enquanto saía um Chery QQ prata, com uma motorista tão entediada que fazia o ato de dirigir semelhante a uma ida ao dentista. Dirigia com uma das mãos enquanto comia um sanduíche  com a outra. Uma criança, no banco de trás, brincava solta ao lado da cadeirinha e, por fim, quando o carro dobrou a esquina sem dar seta, vi que a lanterna de neblina estava acesa.

Carro não é um eletrodoméstico - Foto: Google imagens
Será esta jovem senhora uma síntese da maioria de nossos atuais motoristas? Que tratam o automóvel como um eletrodoméstico que o leva do ponto A ao ponto B e o operam com a displicência de quem usa uma geladeira? Cuidado, geladeiras podem dar choque!

Penso até que a atual displicência com que o brasileiro trata o automóvel é responsável pela falta de identidade dos modelos atuais, mas isso é assunto para uma próxima postagem.

Pode se observar melhor este fenômeno no grande crescimento na venda de motocicletas. Há algumas décadas, pilotar uma moto era quase um estilo de vida. Um motociclista conhecia sua máquina e dominava sua pilotagem e manutenção. Hoje vemos uma mar de motocicletas no trânsito e um motociclista estirado no chão a cada esquina. Tratar a moto como uma geladeira é ainda mais perigoso.

Nosso péssimo sistema de transporte coletivo fez com que todos que tivessem (ou não) condições financeiras migrassem para o carro como a solução "menos pior" para seu problema de deslocamento.

Vejam, o problema não é e nunca foi o excesso de carros. O problema são as políticas públicas que, ao mesmo tempo não dão condições mínimas de transporte coletivo a quem não quer usar o carro como meio de transporte, não dão condições mínimas de fluidez e segurança a quem opta pelo carro.

Ao estimular pura e simplesmente a venda de veículos novos, transforma o carro injustamente num vilão. Prato cheio para urbanistas e eco-chatos que culpam o automóvel por todos os males das cidades. Seria equivalente culpar o excesso de doentes pelo caos na saúde pública observado na maioria das cidades brasileiras.

Amigos que conhecem os Estados Unidos dizem que lá é igual, que não se faz nada sem carro. Porém, lá, as ruas e estradas são ótimas e a fiscalização da lei severa. Não usar cinto de segurança ou mesmo ignorar um aviso de "pare" rende multa e uma bela repreensão do guarda. Assim, mesmo o motorista que não acredita na segurança que gera ao sinalizar uma conversão a faz para não ser multado.

No Brasil as leis são igualmente severas, mas a falta de fiscalização séria causa a proliferação daquele motorista que acha "besteira" sinalizar, "besteira" parar no cruzamento, "besteira" a proibição de faróis de xenon e de películas nos vidros, "besteira"... E, se esse motorista dirige por obrigação, por que não encontrou no transporte coletivo uma melhor opção de deslocamento, torna-se ainda mais perigoso.

Existem exceções, claro, para ambos os lados:

Tenho um amigo, da época da faculdade, que comprou seu primeiro carro apenas depois de casar e ter uma filha. até então era adepto de ônibus e táxis. Foi até divertido por que ele confiou a mim a compra. Na época, seu orçamento permitiu a compra de um Fiat Siena com quatro anos de uso que foi trocado, dois anos depois, por um Toyota Corolla automático (que ele achou genial por não ter de trocar as marchas) também usado. Ele detesta dirigir, mas o faz com um cuidado e um senso de coletividade que faria inveja a muitos entusiastas. Se morássemos em algum país europeu coalhado de trens, ele nunca teria comprado um carro.

Já um outro amigo, este entusiasta, detesta usar cinto de segurança e adora os acessórios da "moda", como películas e engate de reboque na traseira, embora nunca ache um argumento razoável para eles. Nós sabemos o argumento: é apenas para ficar "lindão", conceito aliás altamente subjetivo. Ultrapassa sem sinalizar e para em fila dupla. Este teria um carro em qualquer país do mundo, embora eu duvide que ainda tivesse permissão para dirigir em alguns deles.

Amigos, o número de veículos vai aumentar cada vez mais e nossos políticos não dão sinais de que haverá investimentos para aumentar a fluidez e a segurança em nossas estradas e cidades. O mínimo que podemos fazer é ter cuidado para garantir um trânsito mais seguro. Acreditem, não existe redundância quando sinalizamos nossas intenções no trânsito. Usem a seta, sejam gentis, dêem a vez, respeitem a preferência. São atos simples que fazem todos chegarem mais felizes e seguros aos seus destinos. E vocês irão se surpreender com o retorno da gentileza que virá dos estranhos que compartilham as ruas conosco.

Um forte abraço e até a próxima!

Bruno Hoelz

Um comentário:

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