quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O que é o tal "uso severo" descrito no manual do proprietário?

Amigos,

Conforme prometido na postagem de 27 de outubro (leia aqui), continuaremos a falar sobre lubrificação e, principalmente, sobre o tal "uso severo", ou "ciclo de dona de casa" descrito na maioria dos manuais do proprietário como motivo para efetuar a troca de óleo na metade do intervalo previsto.

Ao contrário do que muitos pensam, o carro que fica muito tempo parado e percorre apenas trajetos curtos apresenta maior desgaste nas peças móveis do motor do que o carro que percorre longas distâncias diariamente.

Ao contrário do que muitos pensam, o motor não está imerso em óleo - Foto: fazerfacil.com.br

Todo motor é projetado levando em conta uma temperatura ideal de funcionamento. Assim, quando um determinado tipo de lubrificante é especificado para aquele motor, mesmo sendo do tipo multiviscoso e agindo também na fase fria, sua ação de refrigeração e, principalmente, limpeza, só ocorrerá com o motor "em carga". Na maioria dos motores quatro cilindros flex, essa temperatura fica em torno dos 90ºC.

O óleo lubrificante tem três funções, sendo duas fáceis de visualizar: reduzir o atrito e trocar calor com as partes metálicas. A terceira função? Limpeza.

Detalhe pistão e biela - Foto: mecanicomaniacos.blogspot.com.br
Dentro do cilindro, onde ocorre a queima do combustível, é esguichado óleo (pelo lado oposto à queima) para reduzir o atrito entre a cabeça do pistão e a parede interna do cilindro. Para evitar a contaminação do óleo por um lado e da mistura ar combustível pelo outro existem os anéis de vedação. Para retirar o óleo da parede do cilindro antes de ocorrer a próxima explosão existe o anel raspador que, de propósito, deixa uma finíssima camada de óleo na parede do cilindro com o objetivo de limpar a carbonização resultante da queima. Obviamente o óleo que fica na parede do cilindro é queimado junto com o combustível.

Aqui, derrubamos mais um mito sobre consumo de óleo. Um carro que viaja muito sempre vai consumir alguma quantidade de óleo, sem que isso signifique problemas. Pelo contrário: o consumo de óleo neste caso é benéfico e significa que o motor está continuamente se autolimpando.

Detalhe anéis de vedação e anel raspador - Foto: www.preparados.com.br
A questão é que esta função de limpeza só ocorre a partir de uma determinada temperatura. Um motorista que utilize o carro para ir ao trabalho diariamente e percorra cinco ou seis quilômetros para ir, mais cinco ou seis quilômetros para voltar, observará um desgaste em seu motor maior do que aquele motorista que está a cinquenta quilômetros do trabalho. É claro que o motor não vai estragar com este uso, mas neste caso, trocar o óleo na metade do tempo garantirá uma maior durabilidade e um melhor funcionamento para aquele motor.

A Volkswagen do Brasil experimentou problemas de lubrificação nos cabeçotes dos primeiros Gol geração V exatamente por isso. Muitos proprietários do Gol 1.0 o utilizavam como segundo carro, dentro da cidade, apenas para percursos curtos. O óleo no cárter acabava contaminado por combustível, pois não ficava óleo nenhum nas paredes dos cilindros e escorria combustível entre o cilindro e o anel raspador. Com gasolina, ou álcool, misturados ao óleo, este perdia poder de lubrificação e logo se ouvia barulho do atrito das válvulas. A solução? Um cárter maior, para minimizar a contaminação e a orientação aos proprietários de que este uso sim é uso severo e que a troca de óleo deve ser feita na metade do tempo.

Aliás, é aos Engenheiros da VW que se credita a criação do termo "ciclo de dona de casa".

Não é gratuitamente que donos de carros antigos, ou pelo menos os mais zelosos não apenas funcionam seus motores uma vez por semana, mas também dão uma boa volta com seus carros, de trinta quilômetros ou mais, para que seus motores entrem na faixa de temperatura ideal de funcionamento.

Aqui fica mais uma dica: não é só o motor que sofre com a inatividade. Todos os componentes do carro, do ar condicionado aos freios, se deterioram com o veículo que fica muito tempo parado ou que roda pouco. Graxas e lubrificantes perdem ação, fluído de freio estraga, mangueiras ressecam e racham, sapatas de freio se esfarelam, e por aí vai. Muita gente acha que está "economizando" o carro, quando na verdade terá mais prejuízos.

Carro foi feito para rodar. Se você é um dos 17 leitores do blog ao menos gosta um pouco de carros. Então, se existe em sua garagem um carro parado, ou que rode pouco, fique atento ao nível e a troca de óleo e aproveite a desculpa para dar uma boa esticada com ele no final de semana.

Um forte abraço e até a próxima postagem,

Bruno Hoelz

domingo, 27 de outubro de 2013

Tipos de óleo: o lubrificante correto para o seu carro

Amigos,

A escolha do óleo lubrificante para o motor do seu carro é um dos assuntos automotivos mais carregado de mitos. Quando chega o momento da troca, tem sempre um frentista, um mecânico ou mesmo um amigo com dicas do tipo: "use óleo sintético que roda 15.000 quilômetros" ou "use óleo mais fino que lubrifica melhor com o motor frio".

Troca de óleo - Foto: google imagens
Você não escolhe o óleo do seu carro. Bem, pode escolher a marca, mas nunca a especificação! A escolha do tipo de óleo já foi feita lá atrás, durante o projeto do motor. Assim, por que você usaria algo diferente do que os engenheiros testaram exaustivamente para o motor do seu carro?

Pois muita gente usa. Já ouvi o vendedor de uma grande rede de serviços oferecer óleos diferentes para rodar mais ou menos quilômetros. Isso para o mesmo carro! Talvez inspirado naquele programa automotivo dominical da TV aberta...

Quando um motor é criado, um dos parâmetros de projeto é a folga entre as peças móveis, que deverá ser preenchida pelo óleo lubrificante. Motores com folgas menores exigem óleos menos viscosos (mais "finos") para preencher esses espaços, motores projetados com folgas maiores exigem um óleo mais viscoso (mais "grosso"), pois um óleo mais fino escorreria sem lubrificar adequadamente o espaço entre as peças.

A classificação do óleo se dá por uma série de letras e números. O manual do proprietário da Fiat Strada Fire, modelo 2012, por exemplo, preconiza o óleo SAE 5W30 API SL, de base sintética.

O que isso significa?

A classificação "SAE" (sigla em inglês de Sociedade dos Engenheiros Automotivos dos Estados Unidos) indica a viscosidade do óleo. O primeiro número indica o grau de viscosidade do óleo em temperatura ambiente e o segundo número indica a viscosidade do óleo em temperatura de serviço do motor. Quanto maior o número, mais viscoso ("grosso") é o lubrificante.

A classificação "API" (sigla em inglês de Instituto Americano do Petróleo) indica a qualidade e o nível desenvolvimento do lubrificante. A letra "S" indica óleos para motores quatro tempos, álcool, gasolina ou ambos. A letra "L" indica a fase de desenvolvimento. Quanto mais para o final do alfabeto, mais moderno é o lubrificante.

Qual óleo lubrificante o proprietário da Fiat Strada deverá utilizar então?

O lubrificante a ser utilizado na picapinha deverá ser, obrigatoriamente sintético, obrigatoriamente um 5W30 e, no mínimo, um SL. No caso da classificação API, poderá ser utilizado um óleo superior, como um SM, SN ou SO. Porém, a classificação mínima atenderá perfeitamente as necessidades de lubrificação do motor.

Não importa a marca, importa a especificação - Foto: google imagens
E o prazo para troca? O mesmo manual do proprietário da Fiat Strada preconiza a troca a cada 15.000 quilômetros ou um ano, o que ocorrer primeiro, já que o óleo perde suas características também por envelhecimento. Também faz uma ressalva ao uso severo, indicando a troca na metade da quilometragem ou do tempo, o que ocorrer primeiro, neste caso.

Assim, não é o tipo de óleo, seja  sintético ou mineral, 5W30 ou 20W40, que ditará o momento da troca, mas sim o projeto do motor, com seu intervalo de troca indicado no manual do proprietário.

E quanto ao tal uso severo? Bem, a pior situação que o motor do seu carro pode enfrentar é não atingir a chamada temperatura de serviço. Veículos que rodam poucos quilômetros por dia nunca atingem a temperatura de serviço e tem a lubrificação comprometida, exigindo mais do óleo, que deverá ser substituído num intervalo menor. Alguns Engenheiros, numa analogia machista, chamam este uso de "ciclo de dona de casa", que será nosso assunto da postagem da próxima quarta-feira.

Um forte abraço e a té a próxima!

Bruno Hoelz