quarta-feira, 15 de maio de 2013

Meu amigo Raphael

Amigos,

Ontem andava (à pé) pela rua quando passou por mim, dirigindo seu Fiat Uno, um amigo da escola, acompanhado da esposa e dos filhos, devidamente atachados em suas cadeirinhas no banco de trás. Acenei e ele devolveu um sorriso, que me fez lembrar o quanto este amigo representou no meu mundo autoentusiasta.

Em meados dos anos 1990, meu pais me trocaram de colégio, havia acabado de repetir o ano e tinha alguns problemas de disciplina. A nova escola era moderna, com métodos de ensino bem diferentes de onde até então eu estudara. Uma pena este colégio não ter sobrevivido, acho que era avançado demais para a época...

Em poucos dias na nova escola percebi que havia tirado a sorte grande: garotos apaixonados por carros, como eu, mas com um contato muito maior com as máquinas, como eu viria a descobrir. Logo tivemos de fazer um trabalho em grupo e foi aí que conheci o Raphael. Já no primeiro contato ele ensinou: "É RaPHael, com PH!".

Na casa dele, antes de qualquer coisa, ele me apresentou os veículos da família: Um Fusca do final dos anos 1970 (1600 com interior preto e volante "meia lua") e um Gol 1996 comprado há dias! Minha casa não tinha garagem e meu pai alugava uma vaga em um prédio no quarteirão. Assim, meu contato com os carros de casa era só quando eu andava neles. Na casa do Raphael podíamos explorá-los ali, na garagem, pois seus pais trabalhavam fora e não usavam os carros. Foi o início do meu aprendizado sobre Fuscas, pois fuçávamos cada cantinho dele para ver como era e como funcionava.

Vivemos muitas aventuras à bordo do Fusca azul - Foto: Google imagens
 Certa vez, lemos o manual inteirinho do Gol e ficamos "babando" com os equipamentos do GTI, o "nosso" era um CLi. Claro que manobrávamos os carros na garagem e no gramado em frente, sonhando em dirigí-los nas ruas. Era ótimo fazer trabalhos de escola na casa do Rapahel, embora passássemos dias inteiros sem tocar nos livros.

O "nosso" também tinha calhas, mas não o vidro traseiro basculante - Foto: Google imagens
Fomos ficando mais velhos e mesmo tendo só 15 anos, um outro grande amigo de escola, o Juca, teve permissão de ir as aulas guiando um surrado Fusca branco, também do final dos anos 1970. Ele morava num sítio e conseguia acessar a rua do colégio usando apenas estradas secundárias, de terra. Era uma festa! Nem preciso dizer que todos pilotávamos o Fusca que rodava mais que o dobro do trajeto normal para a escola todos os dias.

Algumas vezes o Raphael também ganhava permissão para ir à escola no "seu" Fusca e isso virava uma ocasião especial. Íamos até dormir na casa dele, já que ele não poderia nos pegar em casa sem passar pelas ruas principais da cidade.

Com este Fusca íamos a um churrasco num sítio quando, ao cruzar com um cavalo na estrada, levamos um coice na porta direita. O vidro nem subiu mais, ficou quebrado dentro da porta que ganhou um belo amassado. Sorte nossa que havia sido uma excursão "autorizada".

Hoje um adolescente de 15 anos dirigir um carro com o consentimento dos pais é algo impensável, mesmo numa cidade pequena como a nossa. Porém, havia algo de mágico naquela época, uma mistura de confiança mútua entre pais e filhos e certa condescendência das autoridades. Tratávamos o ato de dirigir com uma responsabilidade única, pois não queríamos perder aquele privilégio e acho que pais e policiais sabiam disso.

Já com 18 anos, o Gol do pai do Raphael havia sido trocado por um Fiat Uno Mille 1998 e minha mãe possuía um Fiat Uno S 1.3 1990. Como minha mãe se apaixonou pela direção hidráulica do VW Santana do meu pai, "herdei" o Uno. Assim, nossas aventuras, já habilitados, passaram a ser a bordo deste carro. Claro que, sempre que possível, fazíamos o upgrade para o Santana, um modelo GLi 2000 1996, mas o fato é que os Unos ganharam um carinho especial de nossa parte.

O "meu" Uno era idêntico à este, cinza netuno, mas com as calotas do CS 1990 - Foto: Google imagens
Conseguimos reunir um grupo de bons cinco amigos e entre carros próprios e de pais, tias e irmãs, cinco Fiats Uno: O SX 1998 "do" Raphael, um ELX 1995, um Mille Eletronic 1993, um Mille 1992 e o "meu", o mais potente, um S 1.3 1990. Saíamos nas noites de sábado, um em cada carro e estacionávamos juntos.

Tanto que anos depois, já na faculdade, não tive dúvidas: meu primeiro carro foi um Fiat Uno Fire 2003 zero km! Ver o Raphael passeando de Uno com sua bonita família me fez pensar que ele foi o único de nós que continuou fiel ao nosso carro preferido e, talvez por isso, ainda respire um pouco o ar fresco daquela época feliz.

Um forte abraço e até a próxima!

Bruno Hoelz

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